terça-feira, 3 de maio de 2011

Parto Sem Dor - você também pode! Trechos do livro - O Nascimento da Agnes


O Nascimento da Agnes
30 de abril de 1998, 14h40min



Meu primeiro parto foi muito especial.
Sem apologias ao que fiz ou qualquer coisa disso tipo, gostaria de relatar.
Quando me descobri grávida, imediatamente desejei não ter minha filha no hospital. Diante disso, não fiz o pré-natal com afinco para não mudar de ideia, fiz alguns ultrassons para ver a posição do bebê, mas não conseguimos ver exatamente o sexo.
Eu estava forte, me sentia muito bem de saúde, minha conexão espiritual muito fortalecida, meu marido e eu nos amando muito e, durante toda a gestação, lemos tudo a respeito de parto em casa. Eu estava com 21 anos e o George com 23.
Marquei o parto com uma parteira experiente, mas ao descobrir que, como enfermeira que é, iria utilizar os mesmos procedimentos hospitalares, decidimos não chamá-la. Como éramos muito inexperientes e não sabíamos, na verdade, o que esperar, chegou um momento no qual achei por bem escrever uma carta e deixá-la assinada isentando o George de quaisquer responsabilidades caso algo de pior acontecesse. No final, achamos que seria mau agouro e não escrevi. Hoje parece até engraçado.
Na véspera do parto, minha mãe chegou.
Morávamos em uma fazenda no interior de Goiás e decidimos fazer o parto ali mesmo. Deixei um médico de sobreaviso e a parteira esperando. Nosso carro permaneceu na porta, com o tanque cheio, caso precisássemos sair às pressas.
Preparamos tudo: tesoura esterilizada, lençóis esterilizados, um plástico do tamanho de um lençol, também esterilizado para ser retirado juntamente com o lençol de cima após o parto, bacia para coletar a placenta, dois pedaços de fio dental fervidos dentro de um vidro de álcool para amarrar o umbigo após o nascimento, alguns lençóis e toalhas extras, panos para limpeza, material de limpeza pesada, roupa para o parto, trilha sonora (escolhemos Cat Stevens), lanchinhos, máquina fotográfica, baralho para distrair e muita, muita oração.
Na véspera tive um sonho maravilhoso onde encontrava o Anjo Gabriel, translúcido no céu, juntamente com várias crianças, me dando forças para o momento do nascimento. Acordei chorando de tanta emoção e inebriamento com a sensação deixada pelo anjo.
O trabalho de parto começou. As contrações, que começaram de madrugada, pareciam ser algo muito suportável.
Minha mãe acordou e estávamos felizes, jogando baralho e vestidos de branco, durante as contrações. Ela disse que ainda não era a hora, que eu estava muito bem para serem as contrações do parto. Já havia amanhecido.
As contrações continuaram se intensificando e minha mãe, que já estava de prontidão, forte, mas morrendo de medo, foi avisada de que não chamaríamos a parteira. Felizmente, ela concordou, pois sempre adorou uma aventura e viu que estávamos bem preparados para tal.
Lá pelas onze da manhã, as contrações já eram bem fortes e comecei a conhecer o que seriam as tais dores do parto. Afinal, eu não havia me preparado para um parto sem dor, tudo o que eu sabia sobre parto era medonho!
 Em um determinado momento eu não queria mais som nenhum, não conseguia comer, embora sentisse fome, não conseguia me deitar também, e me recusava a tirar fotos. A força que o processo pedia de mim me transformou em uma mulher selvagem.
Perto de uma da tarde eu estava exausta, sem comer, e as contrações muito fortes, de três em três minutos. Comecei a sentir mais medo ainda, cheguei a pedir anestesia. Forramos o chão com um cobertor limpo e colocamos o plástico e o lençol por cima, transformando todo o quarto em uma sala de parto. O bebê vinha e abria passagem em minha bacia pela primeira vez. Deitar era totalmente contra a gravidade e doía muito mais. Meu corpo e todo o meu eu estavam completamente entregues àquele processo que agora parecia quase insuportável.
Eu sentia medo, força e, em alguns momentos, somente sentia o que estava acontecendo com meu corpo, já desejando muito que o bebê saísse quase em transe.
Orei, pedi forças e procurava seguir o que tinha lido, com a ajuda de minha mãe e meu marido: respiração, deixar o corpo fazer a força (sem eu forçar) para não me exaurir, caminhar, relaxar entre as contrações, tudo vinha naturalmente. Tenho certeza de que se houvessem enfermeiras por perto teria batido em todas elas se quisessem interferir.
Quando já eram 02h30min da tarde, Agnes estava chegando. Sua cabeça já estava baixa e uma força redobrada surgiu em mim. Finalmente iríamos conhecê-la, estava acabando!
Todo o cansaço sumiu e me preparei com alegria para que ela, finalmente, viesse ao mundo. Empurrei até rasgar a roupa de minha mãe, na qual eu segurava, de cócoras, e meu marido, sempre muito forte e amoroso, segurou Agnes por trás.
Como éramos inexperientes, Agnes escorregou como um quiabo, pois foi um parto molhado, ou seja, a bolsa estourou naquele momento do nascimento. Foi engraçado e trágico, George tentando segurar sem muito sucesso a bebezinha que escorregava mole entre suas mãos. Minha mãe correu e pegou-a com um pano, aliviada e feliz, coisa de segundos.
Agnes foi colocada em meu colo pela primeira vez. Nuas, as duas, pele com pele, sobreviventes da vida e da morte. Tudo deu certo. Nada de barulhos, de tapas, de exames, apenas a alegria e o deslumbramento.
Nós três agradecidos e sensíveis, olhando com total amor aquela criaturinha pronta e linda que chegava ao mundo. O tempo literalmente para quando seu bebê chega ao mundo, é uma das emoções mais intensas que se pode sentir.
Eu estava sob o efeito do que havia acontecido e tudo parecia tão louco, forte, maravilhoso, que as emoções eram somente sentidas. Agnes abriu seus enormes olhos e me olhou fixamente. Chorou somente umas duas vezes e vimos que não havia nenhuma secreção para ser tirada de seu nariz ou boca. O cordão parou de pulsar e George amarrou-o em dois pontos, cortando entre eles. É borrachudo, segundo me contou.
Pouco tempo depois, vieram novas contrações e a placenta saiu, inteira. Ficamos horrorizados: é muito feia! Um fígado enorme! George levou a bacia lá pra fora para que enterrássemos e plantássemos uma árvore em cima dela.
Muitos dizem que é bom comer a placenta por conta dos hormônios importantes que contém. Ao vê-la, imediatamente ficamos sem coragem.
Já muito mais tranquilos, unidos por uma força inexplicável que vem ao atravessarmos os ritos de passagem, fomos organizar as coisas. Minha mãe preparou o banho e demos o banho na neném dentro do quarto mesmo, deslumbrados com Agnes e todos os seus detalhes. A mãozinha... os pezinhos... as semelhanças...
Vesti a primeira roupinha, feita por minha avó especialmente para a Agnes, e me deitei com ela no colo para repousar um pouco.
Minha mãe decidiu ir avisar os parentes na cidade, que não sabiam do ocorrido ainda. Celulares não eram tão populares na época.
Eu e George pudemos ficar sozinhos com nossa filha pela primeira vez. George pegou Agnes no colo, com emoção, e olhou fixamente em seus olhos, conversando calmamente com ela. Segundo ele, ela não tirou os olhos bem abertos dele enquanto ele não parou de falar. 
Choramos, emocionados com nossa linda filhinha no colo e pela incrível experiência que havíamos acabado de vivenciar.
Filhos de parto natural humanizado nascem com o semblante muito mais tranquilo e belo.
Agnes adormeceu pela primeira vez “do lado de fora” e eu decidi ir tomar um banho. Levantei-me e fui ao banheiro. Foi então que levamos um susto! Desmaiei no box do banheiro, George ficou desesperado, pois com a perda de sangue, falta de comida e pressão baixa normal em mim, desmaiei sem ver.
Foi horrível, ele orava comigo no colo, pura inexperiência, mas não tinha sido nada de mais, graças a Deus.
Agnes só foi mamar no terceiro dia, algo incomum, mas que acontece. Ela simplesmente não pegava o seio! Todos queriam dar mamadeira, mas eu não aceitava, tinha certeza de que, no momento certo, ela iria mamar. Foi então que, diante do choro do bebê e meu desespero, minha mãe apertou meu seio sem bico contra a boquinha da Agnes e fez com que pegasse o peito. Agnes mamou avidamente e praticamente desmaiou de satisfação em meu colo.

Trecho do livro "Parto Sem Dor - Você Também Pode!
Autora: Maria do Sol

6 comentários:

  1. Quanta emoção ao ler esse relato tão bonito! Ainda não tenho filhos mas tenho muita vontade de tê-los em casa também quando for a hora.
    Grata por compartilhar esses momentos tão especiais!
    Quando sair o livro quero um!!

    beijo grande

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  2. Que bom, parto em casa é realmente muito especial, você vivencia o processo de forma muito intensa, passando por um dos ritos de passagem mais importantes da mulher, renascendo mãe!

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  3. Em tempos da moda de parto em casa você é precursora minha amiga...^^...Que força, que empoderamento de sua condição perfeita de fêmea.
    Ah se todas as mulheres rompessem essa linha tênue entre a dor e o amor e pudessem vislumbrar a beleza contida em se dar a luz a um filho...
    Estou desejando de coração que seu livro seja publicado...será de grande alento e inspiração a novas mamães...Bjs

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  4. Olá, eu estava procurando trechos de um outro livro na internet quando encontrei seu blog e fiquei maravilhada com o seu relato do nascimento da sua primeira filha. Seu livro já foi publicado? Adoraria ler. Tenho um filho de 4 anos e sou separada desde que ele tem 1 aninho. Têm sido anos dificeis mas venho aprendido muito com ele e com outras mães. Beijo no coração! (msef81@hotmail.com)

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  5. Ser mãe é algo tão singular, e qnd este momento é concretizado através de uma situação tão singela mas extremamente significativa?! Enorme emoção só de ler este fragmento... muita luz para vc e sua iluminada família!

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