terça-feira, 27 de março de 2012

Quando a arte transcende a compreensão humana


Por alguns meses, logo após, finalmente, tirar minha tão sonhada carteira de motorista e adaptar nosso gol vermelho, dei aulas de arte com o método “Desenhando com o Lado Direito do Cérebro” em Corumbá de Goiás. Eu ia todas as semanas dar aulas. Acabei conhecendo diversas pessoas da cidade, fazendo amigos especiais.
A professora de minha filha mais velha, que se chama Miriam, foi uma dessas pessoas e acabei visitando-a algumas vezes, conhecendo sua família e mãe, uma senhora especial.
Como paralelamente também produzia minha arte e, na época, pintava quadrinhos em pedra Pirenópolis, dei de presente de aniversário para Miriam um quadrinho com um sol, céu e uma casinha.
O tempo passou, o curso terminou e muitas águas rolaram. Perdi o contato com eles, pois não voltei a frequentar Corumbá por questões da vida, embora guarde ótimas lembranças de lá.
Encontrei Miriam e ela me contou uma história linda com este quadro que quero partilhar:
Miriam contou que sua mãe havia falecido há cerca de 2 anos. Sua mãe adorava o quadro que eu havia dado.  Miriam se casou e, claro, queria levar seu quadrinho, retirou-o da parede e embalou. Sua mãe chegou na sala e disse:
- Onde tá o meu quadro?
- Mãe, eu embalei para levar. Disse Miriam.
- Não, aquele quadro é meu. É meu pedacinho do céu. Você já tá indo embora, pode deixar o quadro e, quando eu morrer, é pra enterrar junto comigo.
O tempo passou e sua mãe teve um AVC terminal irreversível e morreu.
Conforme havia pedido, Miriam colocou o quadro sobre seu peito e foi enterrada com seu “pedacinho do céu”.
Emocionei-me muito com esta história e de uma coisa eu tive certeza: do quanto a arte pode transcender barreiras e compreensão humana. Jamais imaginei que a arte que fiz com carinho e entrega, tivesse um lugar tão importante no coração de alguém que, aparentemente, não era admiradora da arte, mas com certeza, a arte do coração e da sensibilidade ela dominava bem. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Por onde andava Maria do Sol?

O ano de 2011 passou para mim entre livros e meditações positivas. No início de 2011, nos vimos em uma situação financeira bem difícil por conta de nossos projetos não terem dado certo, mesmo tendo dado tudo de nós. Com cinco filhas para sustentar, dívidas impossíveis para nossos ganhos, morando em uma fazenda no interior de Goiás e devastados por dentro, nos vimos em um momento decisivo.
Meu marido, que sempre havia priorizado ficar perto de nós e cuidar de seu projeto de reflorestamento, teve que aceitar trabalhos fora de casa que o mantinham por dias longe e iniciar uma faculdade para aumentar seus ganhos a longo prazo. Eu, após muita reflexão, decidi estudar para o concurso do INSS, já que abriria uma agência na cidade mais próxima. Com cinco meninas e meu marido fora, sem carro para eu trabalhar, família para apoiar por perto, não havia como trabalhar fora sem que o valor compensasse.
A jornada começou com uma grande amiga, já concursada, me apoiando com as primeiras apostilas. Eu não estudava para algo assim há mais de 15 anos!
O início foi verdadeiramente difícil: encontrar uma rotina, ler coisas que eu não entendia nada, procurar apoio pela internet de pessoas que nunca vi, sem dinheiro para investir muito, tirar tempo das meninas e da casa e me acostumar a assimilar diversos conteúdos ao mesmo tempo. Eu sabia por onde começar: pela enorme motivação de gerar estabilidade para minha família e para mim, reforçada a cada dia.
A internet foi a grande ferramenta de estudos. Aos poucos eu ia lendo tudo o que podia sobre pessoas que já haviam trilhado este caminho, sobre como estudar, como administrar meu tempo, como assimilar melhor os conteúdos e o que cai em cada banca de concursos. Lia Salgado, mãe de quatro e hoje colunista da Globo.com foi uma grande inspiração com quem partilhei muitas angústias.
Em algumas semanas encontrei um cursinho online que também é um grupo de estudos, como um facebook de concurseiros no qual todos partilhava diariamente a rotina de estudos, trocam materiais e informações, desabafam e buscam apoio. O Até Passar foi essencial para mim, fiz amigos de jornada ali que nunca esquecerei. Dentre eles, conheci Maris, que também estava estudando para o INSS. Eu queria uma pessoa com a qual pudesse estudar a matéria principal, direito previdenciário, sentia esta necessidade e encontrei-a. Todos os dias, durante meses, separamos 1 hora por dia para estudarmos juntas, ela foi essencial para minha vitória. Digo a ela que foi um anjo em minha vida e é verdade.
Os meses foram passando e nada de edital do concurso. Mesmo estudando muito, via que o conteúdo era enorme e assimilá-lo exigiria muito tempo. Fui vendo que, se eu quisesse mesmo passar, ainda que fosse para as vagas especiais por conta de minha condição física, teria que dar tudo de mim. Foi aí que realmente entrei de cabeça e tive uma conversa muito séria com minha família sobre o que precisaria fazer para passar, sobre como iriam sentir falta de mim, de minha dedicação, bolinhos, agrados e apoio, mas que depois poderíamos desfrutar de uma vida muito mais estável e com menos stress.
Passei a estudar 4 horas por dia inicialmente, intercalando com exercícios físicos. Logo passei para 6 horas e, antes do edital, estava estudando 8 horas por dia.
Milhões de coisas aconteceram durante este ano todo de estudos. Com meu marido fora boa parte do tempo, ficava super difícil fazer compras, atender a qualquer necessidade médica minha ou das meninas e ter vida social. Minha empregada foi embora e só pudemos pegar uma ajuda meio período, tivemos necessidades financeiras reais e eu tinha que manter meu foco apesar de tudo.
Nos mudamos para a cidade no início do ano com o edital já na praça. Conseguimos uma casa maravilhosa, perto da escola das meninas e montamos um tipo de acampamento, com somente o mínimo necessário para ficarmos até receber a resposta do INSS. Avisei na escola que só compraria os uniformes depois de março e assim foi.
O que não esperávamos era que no edital não teriam vagas para deficientes em minha cidade... o choque foi enorme. E agora? Dias de agonia tentando escolher um lugar para prestar o concurso no qual pudéssemos ser felizes até conseguir transferência de volta para cá. Escolhemos uma cidade pequena da Bahia, perto de Salvador, perto de um polo da faculdade de meu marido e do Sarah, onde faço tratamento. Pronto, seja o que Deus quiser e sempre quis viver na praia.
Dia após dia estudando até 10 horas diariamente, me desdobrando sem empregada (no final já tínhamos uma meio período), filhas, escola, marido e mantive meu foco. Pensamento positivo, meditação, foco, sentimento de prioridade neste momento, vídeos de motivação, café e fé! Todos os dias eu acordava e dormia reforçando meu ideal e a frase “menos um dia para a posse”, que li um dia no Até Passar e que me nutriu.
Fiquei anti-social? Mais ou menos. Hoje sei que não por tantas pessoas felizes com minha conquista. Eu não tinha realmente como me desdobrar para ter tempo para todo mundo, mas sempre fiz questão de nutrir minhas amizades e familiares, nem que fosse com uma pequena visita, um email carinhoso, alguma notícia rápida e com minhas filhas e marido não era diferente. Minha pequenina, de apenas 2 anos, chegou ao ponto de me dizer: - “Eu vou ficar com o papai e a mamãe vai estudar, né?”. Eu não teria chegado ao fim ficando isolada do mundo totalmente, não se pode ter um final feliz para uma jornada infeliz.
Chegou a prova: muita grana para viajar e insegurança, mas lá fui eu. Mágicas aconteciam a todo momento, com pessoas queridas aparecendo para me apoiar e tudo perfeito. Fiz a prova sem ficar muito nervosa, já passei por muitas provas de vida, esta não seria das mais difíceis. No meio da prova, confesso, senti frustração por, após tanto tempo de estudos, ainda sentir dificuldades em responder. Respondi e saí com sensação de que estava nas mãos de Deus mesmo. Não senti que teria pontuação para passar. Fiquei arrasada ao ver que minha pontuação tinha sido abaixo do que eu esperava, chorei e continuei estudando para o Senado, que havia saído e para o qual já estava inscrita.
Estudei mais de 10 horas por dia para o Senado no último mês, sem resposta do INSS. A prova do Senado seria dia 11 de março e, no dia 5 de março, no fim da tarde, saiu o resultado do INSS. Abri a página e... meu nome em primeiro lugar para a minha vaga. SILÊNCIO. O MUNDO PAROU. As lágrimas começaram a descer e, junto com elas, um filme completo de tudo o que passei para chegar até aqui. Uma sensação de alívio foi tomando conta do meu corpo enquanto as lágrimas desciam sem controle. Minha filha mais velha, já sabendo que o resultado sairia, chegou já pronta para me consolar, quando olhei em seus olhos, sentada diante do computador, e disse: -“EU PASSEI, EU PASSEI, EU CONSEGUI!!!”
Minha segunda filha chegou e choramos juntas, elas me dando parabéns, emocionadas.
Peguei o telefone e liguei para meu pai, que me apoiou sempre durante todo o processo, e contei, aos prantos, que havia passado. Foi lindo ver como ele se sentiu feliz e aliviado por mim também, foi assim com minha mãe, minha segunda mãe (minha madrasta querida), meus irmãos, amigos e meu marido, que estava fora a trabalho e recebeu a notícia por outra pessoa.
Minha família passou junto comigo. Se não fosse o apoio incondicional de meu marido e filhas, ainda que significasse uma privação que tinha data para começar mas não para terminar eu não teria conseguido. Nunca tive vontade de desistir, mas tinha que reforçar meu propósito sempre e exigiu muito, muito de mim.
Fui fazer a prova do Senado, não sei como fui, mas meu coração já está tranquilo pois conquistei o que almejava e, com certeza, este será o degrau para meu sonho que é ser escritora. E este episódio da minha vida, com certeza, servirá de inspiração para muitas páginas!
Obrigada por todos que me apoiaram. E, para aqueles que acham que ser servidor público é ruim ou mortifica a pessoa, não sabem o que é aproveitar oportunidades e eu: seguirei em frente!
Estou de volta a meu blog, logo postarei mais de tudo que transborda de meu coração e experiências, agora com mais tranquilidade financeira e na beira da praia... hehehe.